Revistas / 2006 / Jane (Outubro)

A Jane era uma revista de moda voltada para o público feminino

Christina! pronta para uma briga

Traduzido por http://www.iloveaguilera.wordpress.com
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“TODOS OS NOMES DE QUE JÁ FUI CHAMADA ME TORNARAM MAIS FORTE”. – Christina Aguilera já foi chamada de todos os nomes mais ofensivos imagináveis, mas ela não deu a mínima. É por isso que Shelly Ridenour ama esta ex-prefeita da Cidade das Putas.

 A cena é incrivelmente parecida com uma foto da antiga Hollywood: luz aconchegante, sofás elegantes, vozes discretas fazendo anotações da celebridade mais do que loira no meio deles. De costas, os cachos sugerem Marilyn Monroe ou Jayne Mansfield. Mas é Christina Aguilera, encolhida em uma cadeira do bar do L’Ermitage Hotel em Bevery Hills.

A cantora está montando uma lista das coisas favoritas para levar consigo na turnê, e inclui travesseiros (“Você nunca sabe se o hotel onde vai ficar tem apenas aqueles duros como pedra”), canetar esferográficas Precise V5 (“Tenho de todas as cores disponíveis”), e, mais importante, “meus cães. Dois pequenos e Koko, a maior. Ela é imensa, pesa mais do que eu”.

“Aposto que é ela quem sai te carregando quando você sai para passear com ela”, eu brinco, porque Christina é uma das pessoas mais minúsculas que eu já conheci. Dar um aperto de mão nela é como cumprimentar a pata de um gato. O rosto miniatura é de uma bonequinha (Madame Alexander, não das Bratz). Mas pela expressão no rosto dela, parece que eu sugeri algo inimaginável.

“Eu sou muito disciplinadora”, ela diz, levantando uma das sombrancelha perfeitamente feitas. “Algums pessoas não conseguem disciplinar os filhos ou os animais de estimação, mas eu sempre quero ter certeza de que eles saibam quem é que manda”.

“Sua mãe era rígida com você?”, eu pergunto. “Na verdade, não. Ela dava a opinião dela. Deixava a gente saber que não podíamos discutir. E nada de palavrões”, a cantora de 15 anos diz. “Eu também não podia assistir à Madonna quando era criança. Minha avó não aprovava”.

Sério? Sua avó já assistiu ao seus vídeos?”. “Sim, mas ela está com a mente muito mais aberta, agora. Quando eu falo sobre as diferenças no tratamento entre homens e mulheres, ela entende”, ela conta. “Ela julga as pessoas. Eu quis crescer e jogar isso pela janela”. E por um minuto eu imagino, se Christina consegue mudar a mente de uma senhora conservadora e preconceituosa, quem diz que ela não consegue mudar o mundo?

Christina odeia rótulos, e é difícil culpar ela por isso, considerando todos os rótulos horríveis que a perseguiram durante os anos: puta, vadia, vaca, vulgar, prostituta, e, na palavra de um blogger, “prefeita da Cidade das Putas”. O pior veio quando o clipe de Dirrty foi lançado, em 2002. Você se lembra – ele trazia uma Christina – ou Xtina – de calças cortadas e top de biquini, lutando com outra garota e dançando erótico em um ringue de boxe.

“Isso me ensinou várias lições sobre como as pessoas – a sociedade – precisa mudar a ótica sobre a qual vê as mulheres”, Christina conta. “Todos os nomes de que já fui chamada me tornaram mais forte para lutar contra o que eu considero um atentado à liberdade das mulheres, para sermos livres para nos expressar”.

Se isso soa como um deja’vu, é porque Christina tem um arsenal de causas – mensagens, se você preferir – que ela costuma comentar durante as entrevistas.Eu acredito que isso se deve ao fato dela ter sido duramente criticada e mal interpretada por críticos no passado, e por isso agora está desesperada para atravessar seu ponto de vista em alto e bom som agora. Então, aí vamos nós: “Toda mulher que tentar se expressar sexualmente vai sofrer críticas. Ser extremamente sexy não é correto para algumas pessoas. Ser conservadora não é certo para outras mulheres. Durante os anos, os homens têm tentado colocar uma coleira para ditar como as mulheres devem se comportar. Se você fizer isso, então é santinha demais. Se não fizer, é sexy demais. Então, o que sou eu?”, ela pergunta calmamente.

Ainda assim, pensando nas calças cortadas, mechas pretas e brancas, olhos sombreados de preto e a coreografia de Dirrty, onde ela imitava uma masturbação, eu imagino que o problema por ser outro. Mais pessoal. “Talvez as pessoas simplesmente não concordem com seu gosto”, eu comento. “É, eu sei, mas eu penso que quando as pessoas julgam tanto assim, é por insegurança”, ela responde. “Porque a atitude de outra pessoa te incomoda tanto? As mulheres merecem mais liberdade do que isso”.

O negócio é, o novo estilo bem feminino-delicado pode explicar o motivo das comparações com as modelos da Hustler, em 2002 (revista Billboard), terem dado lugar às matérias sobre o quão perfeito está o batom dela (Newsweek). Ela não o fez com a intenção de se conformar com as expectativas da sociedade sobre como uma mulher deve se vestir (por exemplo, não deve se parecer como uma garota do mundo), mas para alguém que um dia disse à Rolling Stone “eu não gosto do que é bonito… foda-se o bonito”, ela se tornou a imagem perfeita de feminilidade. Em outras palavras, é seguro gostar de Christina Aguilera agora que ela está vestida novamente.

Sentada na minha frente, a cantora aparente sofisticada e bonita, com um aconchegante e longo cardigan cinza e sandálias de salto altíssimos que revelam a manicure perfeita dos pés. E apesar dela ter saído da posição de vítima da polícia da moda dos tabloides para um ícone de estilo (as garotas do gofugyourself.com até mesmo a premiaram com uma homenagem de melhor “desenfeiura” do ano), ela não está pronta para pedir desculpas. Christina até mesmo compôs uma música “nunca-se-arrependa” para o álbum Back to Basics, chamada Still Dirrty. “Se eu quiser ser provocante, isso não é um pecado/Talvez você não esteja feliz em sua própria pele”, ela canta.

Eu me pego imaginando sobre o fiasco de Britney Spears no Dateline, e a diferença entre essas duas mulheres não poderia ser maior. Christina parece realmente inteligente, e ela é madura o suficiente para articular o que quer dizer. AEapesar de se repetir algumas vezes, o que ela tem a dizer vale a pena ouvir. Ao invés de repetir que ela é “caipira” o tempo inteiro, Christina é a voz para a jovem mulher liberal e opinativa.

É INTERESSANTE QUE Justin Timberlake recentemente considerou Christina como a melhor cantora da geração dele, porque algumas das novas músicas soam como se ela tivesse saído de 2006 em uma máquina do tempo. Back to Basics, o terceiro álbum (quinto, se você considerar a coleção natalina e o álbum em espanhol, ambos de 2000), é uma mistura retrô de soul, R&B, pop antigo e pop moderno. Ela descreve esse álbum duplo como um remanescente “de um clube burlesco de 1920. Uma referência a Billie Holiday. E ao circo”. O segundo disco até mesmo começa com um convite de “boas vindas ao maior show da terra”, que te lembra o exagero que este projeto é. Eu devo admitir, eu gosto que Christina vai até o fim para fazer uma afirmativa como essa.

“É como brincar de se fantasiar, interpretar uma personagem”, ela admite. “Eu passava o batom vermelho para buscar um espírito diferente toda vez que entrava na cabine de gravação. Mas é mais uma chateação do que tudo, porque ele gruda em tudo que toca. É muito melhor para o meu marido quando eu uso um batom à prova de beijo”.

No último mês de novembro, Christina se casou com o namorado há três anos, executivo do empresariado musical e cara todo normal, Jordan Bratman. “Ele é só um cara verdadeiro. Ele me diz, curto e grosso, o que é bom e o que é ruim em mim”, ela diz. “Eu acho que é importante ficar se lembrando sobre quem você é nesse meio”.

E ela não se intimida ao cantar sobre os problemas passados com os homens que entraram em seu coração, um resquício do passado abusivo com o pai (assim como I’m OK, em Stripped, esse relacionamento é contado no novo álbum, com Oh Mother). Mas “Jordan foi a primeira pessoa que derrubou todas essas paredes e me fez perceber que é bom me abrir”, ela diz, com um grande sorrido no rosto.

Quando o marido chega, logo depois, ela o olha com uma expressão tão calorosa que poderia derreter um sorvete. Eu juro que a vi relaxar, só pela mudança da postura do corpo. Jordan, que parece aquele amigo legal do seu irmão, totalmente não-Hollywood, parece doce e educado, e tem um aperto de mão firme.

Os dois se conheceram quando Christina gravava Stripped, em 2002, em um estúdio em Atlanta. “Jordan trabalhava lá. Não aproveitei nenhuma música do produtor, mas ganhei meu futuro marido”, ela diz com um sorriso. “Eu senti uma energia sincera e calorosa, que me fez sentir confortável imediatamente”. Convenientemente, ele estava se preparando para mudar de Atlanta para Los Angeles. “Ele só conhecia a mim aqui, então quando ele se mudou, ficávamos grudados”, ela diz. “E nós éramos apenas amigos. Daí, eu me apaixonei completamente. Não estava procurando nem nada. Enquanto eu escrevia e gravava Stripped, estava em uma época pessoal muito mais pesada. Eu definitivamente não queria me aproximar das pessoas. Mas ele esteve ao meu lado em Dirrty, em tudo aquilo. É meu melhor amigo no mundo inteiro, meu suporte”.

E como tal, Jordan é celebrado em músicas como Ain’t No Other Man e The Right Man. “As músicas foram inspiradas nele, não dedicadas à ele. Eu nunca fui muito fã de músicas de amor. Eu acho elas breguinhas, e não quis fazer assim”, ela diz. “Mas algumas delas são bem vulneráveis. Uma música como Ain’t No Other Man é mais assanhada e em controle da situação, mas também sobre relaxar ao lado desse cara e agradecer pelo que ele já fez. Estou pronta para o casamento, para as batalhas vencidas e derrotadas. Em breve, quero ter uma família. Mas tenho um plano para a minha vida”.

O casamento pode ter feito ela feliz, mas é demais dizer que a derreteu. Veja a música FUSS, por exemplo, um grande corte no produtor Scott Storch (conhecido por trabalhos com Beyoncé e Gwen Stefani, assim como famoso por ser um idiota arrogante em entrevistas). Os dois trabalharam juntos em Stripped, mas tiveram um desentendimento quando Christina se recusou a pagar um voo particular para que ele fosse gravar no novo álbum, Back to Basics. O nome não é mencionado, mas ele recebe a mensagem: “Tudo o que eu sou para você é uma ponte que queimou/espero que tenha valido a pena/parece que eu não precisava de você“.

Christina parece uma criança que adora balas, mas quando se trata de levar desaforo, ela não tem medo de começar a lavar a roupa suja. E foi isso que aconteceu, com Scott a chamando de “patética” e dizendo que o álbum é cheio de “músicas tapa-buracos”. Espero que já tenham acabado. É chato.

CHRISTINA TEM SONHOS (quer dizer, planos determinados) de conseguir um papel no cinema. “Eu lerei alguns roteiros quando começar a turnê deste álbum”, ela revela. “Eu acho que tantos artistas que começam como músicas e tentam ir para o cinema acabam interpretando eles mesmos. Para mim, isso não é um desafio. Eu quero realmente atuar”.

Apesar de ser a moda atual, Christina não quer capitalizar em reality shows, mesmo que esse formato tente capitalizar com ela. “Propuseram uma ideia ao Jordan e a mim. Mas meu casamento é sagrado, eu não quero explorá-lo”, ela diz. Seria isso uma alfinetada em Britney?

Eu pergunto a ela como se sente com os incidentes da ex-amiga com os papparazzi. “As coisas são retiradas de contexto o tempo inteiro. Se alguém sabe disso, sou eu. Eles focalizem em qualquer besteira para transformar neste grande exagero”, ela diz. E apesar de manter as respostas um tanto quanto vagas, eu tenho a sensação de que ela está mandando uma mensagem de apoio para Britney. “Em todas as minhas experiências, eu aprendi a não julgar. E nunca acreditar no que você vê ou lê por aí. E eu sei que você não vai querer publicar isso”. Ela olha para mim e sorri. Eu penso, ‘Droga, ela aprendeu demais, após sofrer tanto na mão da mídia’.

Eu leio para ela uma frase dita por outra vítima, Paris Hilton: “Eu me tornei uma caricatura. Ninguém entende que aquilo em The Simple Life é um papel. Eu me finjo de burra da mesma forma que Jessica Simpson. Mas sabemos exatamente o que estamos fazendo, somos loiras espertas”.

“Você se fingiria de burra para sair na frente?”, eu pergunto. “Não. Acho triste como algumas mulheres sentem a necessidade de se emburrecer em troca de um pouco de sucesso e notoriedade”, ela diz. “Não está ajudando em nada às mulheres. Não estou direcionando esse comentário à Paris, mas parece que muitas pessoas se perdem na superficialidade. Quer você concorde ou não com o que eu sempre digo, ao menos eu estou sendo eu mesma”.

Amém, irmã.


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